Consumo alimentar segundo processamento e suas interfaces com a saúde humana durante a pandemia da covid-19 : um estudo sobre saúde mental e insegurança alimentar.

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2023
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Resumo
Introdução: Um dos grandes marcos da urbanização e evolução tecnológica se refere a criação de novos produtos alimentícios caracterizados pelo alto grau de processamento, chamados de alimentos ultraprocessados. Evidências científicas apontam para os efeitos negativos à saúde em resposta ao consumo de tais alimentos, contrapondo os efeitos benéficos do consumo de alimentos naturais. Durante a pandemia da covid – 19, medidas restritivas afetaram a produção de diversos alimentos naturais, de forma que houvesse maior comercialização e grande consumo de alimentos com maior processamento industrial caracterizados por serem não perecíveis, palatáveis, práticos e de menor custo. Objetivo: Avaliar a associação entre o consumo alimentar segundo extensão e propósito de processamento com a saúde mental e a insegurança alimentar, durante a pandemia da COVID - 19, em adultos de duas cidades da região sudeste do Brasil. Métodos: Trata-se de estudo transversal a partir de uma pesquisa epidemiológica em Ouro Preto e Mariana, com dados coletados entre os meses de outubro e dezembro de 2020. A amostra foi selecionada a partir de amostragem por conglomerado em três estágios: setor censitário, domicílio e residentes. Os dados foram coletados por meio de questionário face a face, contendo informações socioeconômicas, estilo de vida, condição de saúde, incluindo saúde mental (sintomas de ansiedade e sintomas de depressão), consumo alimentar e insegurança alimentar. Para avaliar o consumo alimentar, foi utilizado Questionário de Frequência Alimentar qualitativo referente ao consumo dos últimos três meses e a categorização dos alimentos segundo classificação NOVA. Assim, o consumo alimentar foi tratado como variável explicativa, em todas as análises, contemplando diferentes formas de categorização segundo os desfechos propostos. A variáveis sintomas de ansiedade e depressão e insegurança alimentar foram tratadas como desfecho. Para o primeiro objetivo específico, identificar a associação entre o consumo alimentar e sintomas de ansiedade e depressão, tais desfechos foram medidos por meio de duas escalas validadas para população brasileira, Generalized Anxiety Disorder 7-item (GAD-7) e Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9). Para avaliar a associação entre comportamentos de risco à saúde (medido pelo alto consumo de alimentos ultraprocessados, consumo não diário de frutas e hortaliças, e comportamento sedentário) e sintomas de ansiedade ou depressão, este desfecho foi novamente medido pelas escalas GAD-7 e PHQ-9, para o cumprimento do segundo objetivo específico. Para avaliar a associação entre o consumo alimentar, medido pelo consumo combinado de alimentos in natura/minimamente processados e ultraprocessados e a insegurança alimentar, o desfecho foi avaliado pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, validada para população brasileira, no terceiro objetivo específico. Para todas as análises foi usada a regressão Poisson ajustada para estimar a razão de prevalência e intervalo de confiança de 95%. Para selecionar as variáveis de ajuste, um modelo teórico de causalidade foi construído por meio de um Gráfico Acíclico Direcionado. Resultados: Como cumprimento do primeiro objetivo específico, o presente estudo evidenciou que o maior consumo semanal de alimentos in natura/minimamente processados está associado a uma menor prevalência de sintomas de depressão (RP: 0,5, IC95%: 0,3; 0,7), assim como o maior consumo semanal de alimentos ultraprocessados está associado a uma maior prevalência de sintomas de ansiedade (RP:1,5, IC95%: 1,03; 2,3) e depressão (RP: 1,5, IC95%: 1,1; 2,1). Para o segundo objetivo específico, observou-se uma razão de prevalência 2,69 maior para sintomas de ansiedade ou depressão (RP: 2,69 e IC95%: 1,11 - 6,59) dentre os indivíduos que não consumiam diariamente frutas e hortaliças e tinham um maior consumo semanal de alimentos ultraprocessados, assim como aqueles com a co- ocorrência dos três comportamentos de risco tinham uma razão de prevalência 2,87 maior para sintomas de ansiedade ou depressão (RP: 2,87 e 95%IC: 1,35 – 6,14). No terceiro objetivo específico, foi possível observar que o maior consumo semanal de alimentos ultraprocessados está associado a uma razão de prevalência 60% maior para a insegurança alimentar (RP: 1,60 e IC95%: 1,06 - 2,40). Além disso, o maior consumo de in natura/minimamente processados e o menor consumo de alimentos ultraprocessados representa uma razão de prevalência 45% menor para insegurança alimentar (RP: 0,55 e IC95%: 0,40 - 0,80). Conclusão: A crise sanitária ocasionada pela pandemia da covid -19 pode ter sido catalizadora para o aumento das prevalências de sintomas de ansiedade e depressão, bem como da insegurança alimentar. Consequentemente, diferentes âmbitos da saúde foram afetados, bem como as escolhas alimentares e estilo de vida. O presente estudo conclui que, neste cenário, o maior consumo de alimentos ultraprocessados pode ter impactos negativos à saúde mental e à segurança alimentar, ao passo que os alimentos in natura/minimamente processados são benéficos para ambas as situações. Assim, reforça-se a importância de políticas públicas integradas que atuem sobre a produção, marketing, disseminação e comercialização de alimentos ultraprocessados, bem como o incentivo à produção e venda de alimentos in natura/minimamente processados.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição. Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Consumo de alimentos, Alimentos industrializados, Alimentos in natura, Saúde mental, Ansiedade
Citação
COLETRO, Hillary Nascimento. Consumo alimentar segundo processamento e suas interfaces com a saúde humana durante a pandemia da covid-19: um estudo sobre saúde mental e insegurança alimentar. 2023. 243 f. Tese (Doutorado em Saúde e Nutrição) - Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Nutrição, Ouro Preto, 2023.