Tudo que um homem pode fazer : representações da precarização e possibilidades de subversão no filme Arábia.

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2024
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Resumo
Esta dissertação de mestrado apresenta uma análise do filme Arábia (2018) para verificar como o processo de precarização do trabalho é representado no filme. Nosso objeto de pesquisa é uma obra fílmica que se insere em um conjunto de produções audiovisuais tradicionalmente implicadas em questões políticas (Cardenuto, 2009; Suppia, 2014) e que buscam representar as mazelas dos trabalhadores. Com isso, abordamos alguns filmes do cinema brasileiro dos anos 1980 para mostrar como Arábia é uma obra que atualiza a representação da classe trabalhadora (Gutfreind; Vassali, 2021) e indicamos que essa produção só foi possível com a elaboração de políticas públicas no setor audiovisual (Venanzoni, 2021), transformando a diversidade estética e narrativa do cinema brasileiro recente. Através da metodologia de pesquisa bibliográfica, elaboramos uma discussão teórica que revela o processo de precarização do trabalho (Druck, 2013) e como o fortalecimento desse processo está diretamente relacionado da adesão social à razão neoliberal (Dardot; Laval, 2016) e a reestruturação produtiva no Brasil (Antunes, 2009; Alves, 2010). Fatores como a Reforma Trabalhista de 2017 agravam a flexibilização e terceirização do trabalho, sujeitando a classe trabalhadora à maior intensidade de trabalho, maior insegurança física e maior instabilidade (Krein, 2018). Tais transformações trouxeram consequências para a vida política dos trabalhadores, e revisamos o histórico da atuação sindical no Brasil para avaliar como essas organizações também são fragilizadas nesse processo (Alves, 2010; Santana, 2018). Além da precarização material e institucional, o âmbito da subjetividade dos indivíduos também é atingido. Autores como Vladimir Safatle (2020), Byung Chul Han (2015; 2018) e Mark Fisher (2020) nos ajudam a compreender como o sofrimento psíquico contemporâneo está relacionado ao sistema social vigente. A narrativa de Arábia é elaborada a partir da escrita do personagem sobre suas memórias, acionada pela participação do personagem no teatro da fábrica em que trabalha. No capítulo três discutimos o método teatral Teatro do Oprimido (Boal, 1991) para uma reflexão sobre a Arte como caminho de ação política e, com base em trabalhos da pesquisadora Ângela Salgueiro Marques (2022) sobre o método da cena de Jacques Ranciere, indicamos que a escrita do personagem elabora a ficção como possibilidade de dissenso, desierarquização e desarranjo, transformando as representações que respaldam hierarquias habituais de posições sociais impositivas. Em nossa análise utilizamos o método de análise fílmica proposto por Casetti e Di Chio (1991), através do procedimento de decomposição e recomposição do filme. Decupamos o filme de acordo com nossas observações sobre a elementos da realidade social que são representativos da classe trabalhadora e dividimos essa decupagem em oito sequências, conforme descrevemos no capítulo quatro. Concluímos que imagens contidas no filme nos revelam sobre as circunstâncias e teorias indicadas em nosso referencial teórico. Com isso, conseguimos demonstrar não só as representações da precarização em Arábia, mas também as possibilidades de subversão através da arte.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada. Departamento de Ciências Econômicas e Gerenciais, Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Cinema, Neoliberalismo, Representação cinematográfica, Trabalho - análise
Citação
PATERLINI, Marcela Borges. Tudo que um homem pode fazer: representações da precarização e possibilidades de subversão no filme Arábia. 2024. 128 f. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2024.