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Título: Determinantes sociodemográficos da insegurança alimentar nos domicílios de estudantes de escolas públicas : uma investigação longitudinal.
Autor(es): Rodrigues, Erica Costa
Orientador(es): Meireles, Adriana Lúcia
Mendonça, Raquel de Deus
Palavras-chave: Insegurança alimentar
Pandemia
Covid-19
Alimentação escolar
Desigualdade social
Data do documento: 2023
Membros da banca: Meireles, Adriana Lúcia
Mendonça, Raquel de Deus
Mendes, Larissa Loures
Verly Júnior, Eliseu
Souza, Anelise Andrade de
Molina, Maria del Carmen Bisi
Referência: RODRIGUES, Erica Costa. Determinantes sociodemográficos da insegurança alimentar nos domicílios de estudantes de escolas públicas: uma investigação longitudinal. 2023. 218 f. Tese (Doutorado em Saúde e Nutrição) - Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Nutrição, Ouro Preto, 2023.
Resumo: Introdução: A insegurança alimentar é um marcador de desigualdade social e correlaciona-se à falta de acesso regular e permanente a alimentos adequados em quantidade suficiente, incluído também a preocupação com a obtenção de alimento no futuro e comprometendo o acesso a outras necessidades básicas. Fatores sociodemográficos estão diretamente associados a ocorrência de insegurança alimentar domiciliar e podem afetar a população de forma desigual. Com o surgimento da pandemia da covid-19 em 2020, ficou mais evidente as alterações na dinâmica dos indicadores sociodemográficos que influenciam a segurança alimentar. Objetivo: Examinar a trajetória de mudança na situação de insegurança alimentar e seus fatores associados nos domicílios de estudantes da rede municipal de ensino de Mariana e Ouro Preto entre 2020 e 2022. Métodos: Esta tese faz parte do Estudo da Segurança Alimentar e Nutricional na Pandemia da covid-19 (ESANP), que foi conduzido com amostra probabilística e estratificada dos estudantes e possui delineamento longitudinal. As coletas de dados ocorreram em quatro momentos: T0 (linha de base) em junho e julho de 2020, T1 de março a maio de 2021, T2 de dezembro/21 a janeiro/22 e o T3 de setembro a novembro de 2022. A partir, dos dados do ESANP, foram traçados três objetivos específicos, sendo o primeiro com delineamento transversal para descrever a relação da insegurança alimentar, condições socioeconômicas e variáveis relacionadas à pandemia da covid-19 na linha de base. O segundo objetivo teve delineamento longitudinal e permitiu conhecer a trajetória e os perfis respostas sobre a insegurança alimentar e as condições domiciliares, no terceiro objetivo procedeu-se a modelagem longitudinal da influência de variáveis fixas e aleatórias nas mudanças de respostas sobre a insegurança alimentar. A variável desfecho foi a insegurança alimentar, medida por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Para responder ao primeiro objetivo específico a insegurança alimentar foi analisada como variável categórica: insegurança alimentar x segurança alimentar e as variáveis explicativas foram divididas em dois blocos i) variáveis sociodemográficas e ii) variáveis relacionadas à pandemia da covid-19. Os dados foram analisados por meio do cruzamento de cada covariável com a variável desfecho pelo teste qui-quadrado de tendência e por regressão logística binária. Para responder ao segundo e terceiro objetivos específicos, a insegurança alimentar foi tratada como variável numérica discreta a partir da soma da pontuação da EBIA, denominada nesse estudo de escore de insegurança alimentar. Foram conduzidas análises descritivas de perfis de resposta, gráfico box-plot e tabela de frequência do escore de insegurança alimentar em cada tempo visando avaliar as mudanças e tendências ao longo do tempo. Os tempos foram comparados dois a dois por meio do teste de Wilcoxon Pareado, com correção de Holm. Foram construídos modelos mistos generalizados a fim de estudar a relação entre o escore de insegurança alimentar e variáveis explicativas de interesse ao longo do tempo. Por fim, para compreender a relação interseccional das características do chefe da família e mudanças no escore de insegurança alimentar, foram construídos modelos generalizados mistos entre as principais variáveis interseccionais descritas na literatura (raça/cor da pele, sexo e estado civil, sexo e renda familiar, e localidade da residência, área urbana ou rural). As análises estatísticas foram realizadas nos softwares Stata 13.0 e Jamovi versão 2.3.28.0 ao nível de significância de 5% para todos os modelos, ajustados por fatores de confusão. Resultados: Foram avaliados na linha de base 612 domicílios, sendo que 82,0% (n = 502) apresentavam algum grau de insegurança alimentar. A insegurança alimentar foi associada ao número de crianças no domicílio acima de três (OR: 2,17; IC95%: 1,10-4,27), ao acesso à cesta básica (OR: 1,64; IC 95%: 1,04-2,58) e a diminuição da renda durante a pandemia. Nossas análises longitudinais revelaram que houve tendência de diminuição na média do escore de insegurança alimentar ao longo do tempo. O escore médio diminuiu de 2,9 e 2,7 em T0 e T1 para 2,2 em T2 e T3 respectivamente. As diferenças entre as médias do escore de insegurança alimentar foram observadas na comparação T0 com T2 e T3, e entre T1 comparado ao T2 e T3 (p-valores < 0,001 e 0,017 respectivamente). Nossos dados evidenciaram ainda que a redução do escore de insegurança alimentar correu de forma desigual em muitos dos grupos estudados. Para famílias extremamente pobres, houve aumento do escore de insegurança alimentar ao longo do tempo (p<0,001), comparado as famílias que tinham renda entre 1 e 2 e entre 3 a 6 salários-mínimos. Nossos modelos mistos generalizados demostraram que as variáveis explicativas associadas a maior escorem de insegurança alimentar foram renda familiar de até meio salário-mínimo, estar cadastrado em programas sociais, ter recebido recebimento de auxílio emergencial, ter recebido cesta básica de alimentos e maior número de crianças no domicílio. Também observamos que fatores interseccionais do chefe da família foram associados a maior escore de insegurança alimentar. Na comparação entre raça/cor da pele e sexo, tanto mulheres (RT: 0,47; IC95%: 0,33 – 0,68), quanto homens (RT: 0,37; IC95%: 0,25 – 0,54) autodeclarados como brancos tiveram razão de taxas de insegurança alimentar menor quando comparados aos seus pares não brancos. As mulheres casadas tiveram escore de insegurança alimentar menor (RT: 0,64; IC95%: 0,47 – 0,86) que as mulheres não casadas. Comparado às chefes de família mulheres que residem em áreas rurais, os homens residentes em área urbana (RT: 0,49; IC95%: 0,45 – 0,67) e residentes em área rurais (RT: 0,49; IC95%: 0,32 – 0,69) possem menor razão de taxas de insegurança alimentar. Conclusão: Nossas análises permitiram conhecer a situação de segurança alimentar nos domicílios dos estudantes de escolas públicas durante o período de suspensão das aulas presenciais em função da pandemia de covid-19. Conclui-se que, embora tenha havido redução da IA ao longo do tempo para a maior parte dos domicílios estudados, essa tendência de declínio não ocorreu para as famílias pobres e extremamente pobres. Nos lares chefiados por mulheres não brancas, mulheres não casadas, mulheres residentes em área rural a situação de IA foi pior ao longo do tempo comprado aos seus pares homens. Assim, espera-se que essa pesquisa possa contribuir para o conhecimento dos fatores que influenciam e determinam a segurança alimentar em nível local/regional não só para gestores públicos, mas também para líderes de movimentos sociais e instâncias locais de participação social, que podem conjuntamente propor ações e políticas de mitigação da forme e da insegurança alimentar com base em resultados científicos adequados as necessidades regionais.
Resumo em outra língua: Introduction: Food insecurity is a marker of social inequality and correlates with the lack of regular and permanent access to adequate food in sufficient quantity, also including concerns about obtaining food in the future and compromising access to other basic needs. Sociodemographic factors are directly associated with the occurrence of household food insecurity and can affect the population unequally. With the emergence of the Covid-19 pandemic in 2020, changes in the dynamics of sociodemographic indicators that influence food security became more evident. Objective: To examine the trajectory of change in the situation of food insecurity and its associated factors in the homes of students in the municipal education network of Mariana and Ouro Preto between 2020 and 2022. Methods: This thesis is part of the Study of Food and Nutritional Security in the Pandemic of covid-19 (ESANP), which was conducted with a probabilistic and stratified sample of students and has a longitudinal design. Data collection took place at four times: T0 (baseline) in June and July 2020, T1 from March to May 2021, T2 from December/21 to January/22 and T3 from September to November 2022. Based on the ESANP data, three specific objectives were outlined, the first with a cross-sectional design to describe the relationship between food insecurity, socioeconomic conditions and variables related to the Covid-19 pandemic in the baseline. The second objective had a longitudinal design and allowed us to understand the trajectory and profiles of responses to food insecurity and household conditions. In the third objective, longitudinal modeling of the influence of fixed and random variables on changes in responses to food insecurity was carried out. The outcome variable was food insecurity, measured using the Brazilian Food Insecurity Scale (EBIA). To respond to the first specific objective, food insecurity was analyzed as a categorical variable: food insecurity x food security and the explanatory variables were divided into two blocks i) sociodemographic variables and ii) variables related to the covid-19 pandemic. The data were analyzed by crossing each covariate with the outcome variable using the chi-square trend test and binary logistic regression. To respond to the second and third specific objectives, food insecurity was treated as a discrete numerical variable based on the sum of the EBIA score, referred to in this study as the food insecurity score. Descriptive analyzes of response profiles, box-plot graph and frequency table of the food insecurity score were conducted at each time in order to evaluate changes and trends over time. The times were compared two by two using the Wilcoxon Paired test, with Holm's correction. Generalized mixed models were constructed in order to study the relationship between the food insecurity score and explanatory variables of interest over time. Finally, to understand the intersectional relationship between the characteristics of the head of the family and changes in the food insecurity score, generalized mixed models were constructed between the main intersectional variables described in the literature (race/skin color, sex and marital status, sex and income family, and location of residence, urban or rural area). Statistical analyzes were performed using Stata 13.0 and Jamovi version 2.3.28.0 software at a significance level of 5% for all models, adjusted for confounding factors. Results: 612 households were assessed at baseline, with 82.0% (n = 502) showing some degree of food insecurity. Food insecurity was associated with the number of children in the household above three (OR: 2.17; 95% CI: 1.10-4.27), access to basic food baskets (OR: 1.64; 95% CI: 1 .04-2.58) and the decrease in income during the pandemic. Our longitudinal analyzes revealed that there was a tendency for the average food insecurity score to decrease over time. The mean score decreased from 2.9 and 2.7 at T0 and T1 to 2.2 at T2 and T3 respectively. Differences between food insecurity score means were observed when comparing T0 with T2 and T3, and between T1 compared with T2 and T3 (p-values < 0.001 and 0.017 respectively). Our data also showed that the reduction in the food insecurity score was uneven in many of the groups studied. For extremely poor families, there was an increase in the food insecurity score over time (p<0.001), compared to families with incomes between 1 and 2 and between 3 and 6 minimum wages. Our generalized mixed models demonstrated that the explanatory variables associated with a higher food insecurity score were family income of up to half the minimum wage, being registered in social programs, having received emergency aid, having received a basic food basket and a greater number of children at home. We also observed that intersectional factors of the head of the household were associated with a higher food insecurity score. When comparing race/skin color and sex, both women (RT: 0.47; 95% CI: 0.33 – 0.68) and men (RT: 0.37; 95% CI: 0.25 – 0. 54) self-declared as white had a lower rate of food insecurity when compared to their non-white peers. Married women had a lower food insecurity score (RT: 0.64; 95% CI: 0.47 – 0.86) than unmarried women. Compared to female heads of families residing in rural areas, men residing in urban areas (RT: 0.49; 95% CI: 0.45 – 0.67) and residing in rural areas (RT: 0.49; 95% CI : 0.32 – 0.69) have a lower rate of food insecurity rates. Conclusion: Our analyzes allowed us to understand the food security situation in the homes of public-school students during the period of suspension of face-to-face classes due to the covid-19 pandemic. It is concluded that, although there was a reduction in AI over time for most of the households studied, this declining trend did not occur for poor and extremely poor families. In households headed by non-white women, unmarried women, and women living in rural areas, the AI situation was worse over time compared to their male counterparts. Thus, it is expected that this research can contribute to the knowledge of the factors that influence and determine food security at the local/regional level, not only for public managers, but also for leaders of social movements and local instances of social participation, who can jointly propose actions and policies to mitigate hunger and food insecurity based on scientific results suited to regional needs.
Descrição: Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição. Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto.
URI: http://www.repositorio.ufop.br/jspui/handle/123456789/18112
Licença: Autorização concedida ao Repositório Institucional da UFOP pelo(a) autor(a) em 05/03/2024 com as seguintes condições: disponível sob Licença Creative Commons 4.0 que permite copiar, distribuir e transmitir o trabalho, desde que sejam citados o autor e o licenciante. Não permite o uso para fins comerciais nem a adaptação.
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