Entre a ciência e a tradição : o higienismo e a eugenia nos manuais de economia doméstica de Júlia Lopes de Almeida (1905-1929).

Abstract

O presente estudo tem como objetivo compreender o Livro das Noivas (1905) e O Livro das Noivas (1929), manuais de economia doméstica homônimos escritos por Júlia Lopes de Almeida, como ferramentas que colaboraram na divulgação de discursos higienistas e eugênicos no período da Primeira República no Brasil. Para tanto recorremos à noção de espiral da cultura científica proposta por Carlos Vogt. Júlia Lopes de Almeida foi uma das escritoras mais reconhecidas da Belle-Époque brasileira. Autora de romances ficcionais, contribuiu com jornais tais como Gazeta de Notícias, O País, Jornal do Comércio, A Mensageira e outros, além da publicação dos manuais de ciências domésticas para jovens “nubentes” e donas de casa. Entende-se que a literatura manual produzida por mulheres ou a elas destinadas, podem se constituir em interessante fonte no estudo da difusão dos saberes produzidos no campo científico. Estes compêndios propunham-se a ensinar às mulheres normas de conduta, boas maneiras e cuidados com a casa e a família em geral. Muitos traziam ainda informações relacionadas aos temas médicos, higiênicos, eugênicos, pedagógicos, como os manuais publicados por Júlia Lopes. No contexto brasileiro da Primeira República, a educação da população acerca destas questões era entendida como uma via de modernização e desenvolvimento da nação. Coube aos médicos sanitaristas, reformadores políticos, intelectuais-escritores a tarefa de informar e educar os indivíduos e as famílias, transmitindo-lhes os novos preceitos morais e comportamentais. Neste trabalho busca-se compreender Júlia Lopes de Almeida como uma dessas intelectuais que colaboraram no movimento de educação da população, difundindo e amplificando discursos produzidos no campo científico sobretudo no âmbito doméstico.