Percursos (im)prováveis : estudantes das camadas populares que chegam ao ensino superior.

Abstract

A longevidade escolar de alunos oriundos das camadas populares vem sendo investigada pela Sociologia da Educação desde a década de 1960 no exterior, sendo que, no Brasil, em específico, as pesquisas iniciaram-se na década de 1990. Dando sequência, portanto, a essa discussão, esta pesquisa objetivou investigar as estratégias que possibilitaram a longevidade escolar de alunos das camadas populares que ingressaram em uma universidade pública, no nosso caso, na Universidade Federal de Ouro Preto, pelo sistema de cotas. Para isso, buscouse caracterizar os alunos das camadas populares quanto ao perfil socioeconômico; reconstituir o percurso escolar realizado por eles por meio de relatos biográficos; assim como identificar as disposições e práticas que lhes possibilitaram a longevidade escolar. Quanto ao percurso metodológico, de natureza qualitativa, utilizou-se, como técnica de análise de dados, a análise de conteúdo, por sua vez complementada pelo dispositivo teórico metodológico denominado traços pertinentes de descrição, proposto por Passeron (1975). Dessa forma, os dados foram coletados a partir de duas etapas principais. Uma primeira que consistiu de uma fase documental, em que fontes estatísticas, dos anos de 2013 e 2014, foram analisadas buscandose conhecer o perfil socioeconômico dos alunos investigados. Já a segunda etapa consistiu da aplicação, a oito alunos de graduação, de questionário e entrevista semiestruturados. Ao todo, foram contemplados alunos representantes das áreas de Ciências Exatas, Ciências Biológicas, Agrárias, Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Linguísticas, Letras e Artes. A interpretação dos dados revelou, por um lado, a existência de traços pertinentes, explicativos, por conseguinte similares àqueles identificados em pesquisas anteriores, de modo a reafirmar as seguintes categorias previamente encontradas: práticas educativas familiares, capital social, influência do professor e da escola. E, por outro, a descoberta de outros elementos explicativos que, ao serem analisados, deram origem às categorias práticas religiosas, valorização do estudo, incentivo ao contato com a cultura escrita.