Avaliação da influência do inóculo em açaí (Euterpe oleracea) na infecção oral pelo Trypanosoma cruzi em camundongos BALB/c.
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2024
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Resumo
Por muito tempo, o principal mecanismo de transmissão da doença de Chagas foi o
vetorial. Entretanto, após uma série de medidas de controle ao principal vetor, Triatoma
infestans, ocorreu um decréscimo na transmissão vetorial no Brasil. Nesse cenário, a infecção
por via oral se tornou o principal mecanismo de transmissão da doença de Chagas no Brasil.
Essa via de infecção é caracterizada pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminados com
asformas metacíclicas (TM) do Trypanosoma cruzi, sendo o açaí (Euterpe oleracea) o principal
alimento envolvido. A alta capacidade antioxidante da pasta de açaí, com alto teor de polifenóis,
especialmente antocianinas, já foi confirmada em vários estudos, entretanto existem poucos
trabalhos na literatura que abordam a via oral, e complementarmente, a participação do açaí na
interação parasito/hospedeiro. Nesse sentido, um estudo sobre a influência do açaí, frente a
infecção por via oral possibilitará a compreensão de como o alimento no qual o parasito é
inserido no organismo interfere na interação entre T. cruzi/hospedeiro. Baseado nisso, o
objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do inóculo em açaí na infecção experimental
pelo T. cruzi. Para cumprir com esse objetivo, camundongos BALB/c foram divididos em três
grupos experimentais, o grupo Controle (animais não infectados) e os grupos de animais
infectados por via oral com formas TM da cepa Y (DTU II) do T. cruzi adicionadas ao meio
RPMI ou ao açaí. Os animais inoculados com os parasitos em meio RPMI apresentaram 83%
de sobrevida, enquanto essa porcentagem no grupo inoculado com parasitos em açaí foi de 98%.
Apesar do grupo Açaí apresentar período pré- patente de parasitemia mais longo, as curvas de
parasitemia dos animais infectados foram semelhantes. A quantificação da carga parasitária
tecidual mostrou um aumento do parasitismo na bochecha no grupo RPMI em relação ao grupo
Açaí no 14o DAI (dias após a infecção). Já no estômago esse aumento foi observado
precocemente no 5o DAI. Entretanto, no coração observou-se um perfil inverso, onde houve um
aumento da carga no grupo Açaí no 7o DAI em relação ao grupo RPMI. Já no 14o DAI ocorre
uma inversão. A avaliação do processo inflamatório mostrou que tanto no músculo próximo a
bochecha, quanto no estômago há presença de processo inflamatório nos dias 2 e 5 após a
infecção para ambos os grupos infectados. No 14o DAI esse aumento foi observado apenas na
bochecha para animais infectados em meio RPMI. No coração apesar de não ter sido observado
processo inflamatório, foram encontrados ninhos de amastigota no 14o DAI no grupo RPMI. A
quantificação de citocinas no músculo próximo a bochecha mostrou que ocorre uma maior
produção da citocina pró-inflamatória TNF aos 14 dias após a infecção no grupo RPMI em
relação ao grupo Açaí. Já no estômago, a avaliação das citocinas mostrou que nos animais
infectados com Açaí há uma menor produção de citocinas pró-inflamatórias e
imunoreguladoras. A avaliação proteômica do estômago revelou 110 proteínas
diferencialmente abundantes nos três grupos experimentais. Destas, 24 proteínas encontraram-
se aumentadas no grupo Açaí e diminuídas no grupo RPMI em relação ao grupo Controle. Estas
proteínas estão envolvidas no controle do processo inflamatório e na manutenção da integridade
da barreira epitelial. Já os grupos infectados partilharam 17 proteínas com aumento da
abundância em relação ao grupo Controle, entre as quais se destacam proteínas relacionadas à
invasão celular e integridade da mucosa gástrica. Esses resultados sugerem que a infecção oral
por ingestão de formas metacíclicas em meio RPMI, além de promover uma parasitemia mais
precoce, foi responsável pelo estabelecimento da infecção no estômago no 5o DAI. Já no grupo
Açaí, a infecção ocorre de forma maissilenciosa, com parasitemia mais tardia e estabelecimento
da infecção apenas no 14o DAI. Este fato pode estar relacionado à uma menor produção de
citocinas pró-inflamatórias nos animais infectados com o Açaí, além do aumento de proteínas
que dificultam a invasão celular pelo T. cruzi.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Pró-Reitoria de Pesquisa de Pós Graduação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Protozoário, Doença de Chagas, Infecção, Açaí, Estômago
Citação
MARQUES, Flávia de Souza. Avaliação da influência do inóculo em açaí (Euterpe oleracea) na infecção oral pelo Trypanosoma cruzi em camundongos BALB/c. 2024. 120 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2024.