Contribuições à estratigrafia neocenozoica do Quadrilátero Ferrífero a partir do reconhecimento e caracterização de leques aluviais dissecados.
Data
2023
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Resumo
A geomorfologia da região do Quadrilátero Ferrífero é marcada por serras altas, rios encaixados e vales
amplos, extremamente propícia ao desenvolvimento de leques aluviais. Apesar de propícia, escassos são os
trabalhos que focaram no entendimento da referida feição geomorfológica e sedimentar. Este estudo buscou
entender a gênese e evolução dos leques aluviais inconsolidados do Quadrilátero Ferrífero, acrescentando
suas análises aos estudos sobre a estratigrafia neocenozoica regional, principalmente àqueles voltados à
reconstituição paleogeográfica. Para identificar os leques aluviais foram realizadas análises da literatura
geomorfológica e dos mapas geológicos da região que direcionaram os trabalhos de campo, onde foi
possível o reconhecimento efetivo dos depósitos. Uma vez reconhecidos, os mesmos foram alvo de
mapeamentos, análises morfométricas, morfológicas e sedimentológicas. Além disso, os sedimentos das
fácies mais representativas foram coletadas e enviadas para datação por luminescência opticamente
estimulada (LOE). A coleta foi realizada em tubos de metal com amostrador e alavanca específicos e
desenvolvidos para minimizar problemas relacionados ao caráter rudáceo dos sedimentos. As análises
morfológica e morfométrica permitiram evidenciar uma descaracterização do formato (semi-cônico) natural
dos leques aluviais devido a atuação de processos naturais, representados pela expressiva incisão da rede de
drenagem e, antrópicos, figurados pela abertura de estradas, loteamentos, atividades mineiras e
agropecuária. Apesar disso, os leques do Quadrilátero Ferrífero apresentam características morfométricas
similares aos parâmetros estabelecidos pela literatura especializada nacional e internacional. A presença de
Itabiritos e minerais ferrosos possibilitou a segregação entre depósitos de leques aluviais e meras rampas de
colúvio. Os estudos das fácies sedimentares dos leques aluvias do Quadrilátero Ferrífero evidenciaram
ausência de processos agradacionais, estando os mesmos inativos. Cerca de 40% das fácies encontradas são
de fluxos de detritos plásticos (Gmm) e pseudoplásticos (Gcm) intercaladas a eventuais fácies de
preenchimento de canal (Gt), fluxos hiperconcentrados (Sm) e de lama (Fm). Cerca de 91% são cascalhosas.
Importante destacar que as características sedimentares também estão similares com parâmetros e modelos
propostos pela literatura especializada. Os dados de geocronologia obtidos por LOE elucidaram importância
da utilização dos amostrador e alavanca para melhor aproveitamento do tempo e qualidade das amostras.
Além disso, a utilização do protocolo SAR de 15 alíquotas foi fundamental para obtenção de idades
confiáveis, onde os grãos de quartzo demonstraram alta sensibilidade e curvas dose-resposta adequadas,
permitindo melhores reflexões e confiabilidade das idades. Com exceção ao leque aluvial Chapada da
Canga, cuja idade máxima estimada remonta ao Neo-Oligoceno, os leques aluviais inconsolidados do
Quadrilátero Ferrífero tiveram sua gênese ao longo do Pleistoceno. Na maioria das vezes essa gênese
relaciona-se a um clima seco, com possível retração da vegetação e preenchimento sedimentar dos vales
fluviais. A colmatação de fácies holocênicas em clima seco também foi elucidada nos leques da Serra de Ouro Branco (9.710 ka) e do Complexo Bonfim Setentrional (9.300 e 9.500 ka). A jovem fácies Gmm do
leque 1 do Complexo Bonfim Setentrional, de 3.730 ka, relaciona-se ao retrabalhamento de sedimentos mais
antigos. O principal reflexo da tectônica Cenozoica no contexto dos leques aluviais do Quadrilátero Ferrífero
refere-se à forte incisão fluvial holocênica, provocada por soerguimentos da plataforma continental
brasileira. Na mesma medida em que a referida dissecação fluvial gerou os terraços da região, também
recortou os sedimentos dos leques aluviais. Essa dinâmica associada ao uso e ocupação do terreno são os
fatores que descaracterizaram os depósitos, levando os mesmos a serem confundidos com meras pilhas
estéreis de cascalhos erodidos e vegetados.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Fácies - geologia, Fotoluminescência, Geomorfologia, Geologia estratigráfica - neocenozóico, Sedimentos - geologia
Citação
LOPES, Fabricio Antonio. Contribuições à estratigrafia neocenozoica do Quadrilátero Ferrífero a partir do reconhecimento e caracterização de leques aluviais dissecados. 2023. 180 f. Tese (Doutorado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2023.