Arquitetura e evolução tectono-metamórfica da Saliência do Rio Pardo, Orógeno Araçuaí, MG.
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2017
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Resumo
O Orógeno Araçuaí, localizado no sudeste do Brasil, representa a maior porção do sistema orogênico
Brasiliano/Pan-Africano Araçuaí-Congo Ocidental (AWCO), desenvolvido no embainhamento entre os
crátons do São Francisco e Congo durante a amalgamação do Gondwana Ocidental. O Orógeno Araçuaí
pode ser dividido em duas porções principais: o núcleo cristalino, que abrange as rochas de alto grau
metamórfico e graníticas, e um cinturão metamórfico externo, a Faixa Araçuaí. A Faixa Araçuaí
descreve ao longo da margem sudeste do Cráton do São Francisco uma grande curvatura antitaxial, isto
é, cuja convexidade fica voltada para a região de antepaís, denominada Saliência do Rio Pardo. Embora
estudada ao longo de seu segmento externo, na conexão com o Aulacógeno do Paramirim, sua porção
interna permanece um dos setores menos investigados do orógeno. No presente estudo, são
proporcionadas novas informações sobre a Saliência do Rio Pardo em termos de composição
estratigráfica, arcabouço estrutural e condições tectono-metamórficas sob as quais se desenvolveu.
Geneticamente, a Saliência do Rio Pardo pode ser vista como uma curva primitiva controlada
essencialmente pela Bacia Macaúbas. Circundada por blocos de embasamento
arqueanos/paleoproterozoicos, as unidades estratigráficas que a preenchem são, da base para o topo: (i)
o Supergrupo Espinhaço (Estateriano ao Toniano), (ii) o Grupo Serra do Inhaúma (Toniano), (iii) o
Grupo Macaúbas (formações Nova Aurora e Chapada Acauã, Toniano-Criogeniano), (iv) o Complexo
Jequitinhonha (Criogeniano-Ediacarano), e (v) a Formação Salinas (Ediacarano). A Bacia Macaúbas é
invertida durante as três fases de deformação colisionais do orógeno, resultando em uma linha de frente
orogênica sinuosa e complexa. As fases de deformação D1 e D2 são coaxiais e resultam em uma cunha
de dupla vergência, com transporte tectônico em direção ao cráton e em direção às porção internas, bem
marcada na região de charneira da saliência. Os traços estruturais desta fase perfazem toda a curvatura,
variando de N-S no flanco oeste, em torno de E-W na charneira, e WNE-ESE a NW-SE no flanco leste.
A fase D3 materializa o encurtamento final de direção WNW-ESE através de estruturas de direção
aproximadamente N-S a NNW-SSE na zona de charneira da saliência. Localmente a interferência entre
as fases D1/D2 e D3 gera padrão de redobramento em domo-e-bacia. A fase D4 é representada por
estruturas de grande escala, como a Zona de Cisalhamento Chapada Acauã e a Zona de Cisalhamento
Tingui, e pela reativação normal-sinistral da Zona de Cisalhamento de Itapebi. Essas estruturas são, de
uma forma geral, responsáveis pela justaposição de unidades de níveis crustais diferentes. O estágio
colisional (fase D1 e D2) é assistido por um metamorfismo Barroviano, passando pelas zonas da clorita,
biotita, granada, estaurolita, cianita e sillimanita, cujo pico é datado entre 560-575 Ma. No estágio póscolisional
(fase D4) ocorre um segundo evento metamórfico regional de baixa pressão (do tipo Buchan),
cujas assembleias pós-cinemáticas passam pelas zonas da biotita, granada, estaurolita, andaluzita,
cordierita e sillimanita, em um evento em c. 525-530 Ma. No flanco leste da saliência, a ocorrência de
zonas de alto grau (fácies anfibolito alto a granulito), representadas pela assembleia Crd + Sil + Kf ±
Grt ± Bt, possivelmente está relacionada à descompressão em temperaturas elevadas (posterior ao evento metamórfico Barroviano) ou ao metamorfismo pós-colisional de baixa pressão em temperaturas
elevadas. Os dados levantados levam à seguinte proposição de evolução tectônica para a Saliência do
Rio Pardo. Durante a fase de abertura, o depocentro da Bacia Macaúbas se desenvolve próximo à porção
central da saliência. O início do rifteamento é responsável pela deposição do Grupo Serra do Inhaúma
na base, sendo seguida pela deposição das porções intermediária e superior do Grupo Macaúbas. No
estágio colisional, as fases principais de deformação são responsáveis pela formação de uma cunha de
dupla vergência, bem marcada na zona de charneira. Essa dupla vergência é resultante possivelmente da
presença de dois anteparos: um deles inclinado representado pelos blocos de embasamento
paleoproterozoicos (porção externa do arco) e o outro suave, que seria o arco magmático (porções
internas do orógeno). Ao longo da frente orogênica, o transporte tectônico ocorre de maneira centrífuga
em direção ao cráton. Neste estágio, em c. 560-575 Ma, a Formação Salinas se deposita e as unidades
experimentam metamorfismo Barroviano. O espessamento crustal resulta na fase de colapso
extensional, resultando no desenvolvimento das zonas de cisalhamento normais regionais. Esta fase é
responsável por afinamento crustal, intrusão de plútons e ascensão das isotermas, que se materializa em
um segundo evento metamórfico regional de baixa pressão há c. 530-525 Ma.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Geologia estrutural, Metamorfismo - geologia
Citação
PEIXOTO, Eliza Inez Nunes. Arquitetura e evolução tectono-metamórfica da Saliência do Rio Pardo, Orógeno Araçuaí, MG. 2017. 195 f. Dissertação (Mestrado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017.