A dimensão comunitária do Jardim de Epicuro.

Abstract

A intenção deste trabalho é defender que, além das concepções fisiológicas e éticas da filosofia de Epicuro, uma terceira dimensão está imbricada a estas duas, sendo igualmente necessária ao alcance da vida feliz: a comunitária. Através de uma sociabilidade entre amigos e da vida comunitária do Jardim, Epicuro engendrou um ambiente favorável ao exercício filosófico, que dispunha das condições indispensáveis à obtenção da vida feliz. Começamos por apresentar os princípios bases desta filosofia, respectivamente: a sua física, que contêm uma concepção de mundo atomista; e a sua ética, hedonista e instrutiva; para, então, defender que esses princípios foram desenvolvidos e cultivados sob uma espécie de sociabilidade entre os amigos epicuristas, que surgiu e se sustentou através das viagens que Epicuro realizava a fim de visitá-los e da contínua troca de cartas entre eles. Esses dois pontos são importantes porque, alguns anos depois, essa sociabilidade filosófica se consolidou dando início à comunidade do Jardim de Epicuro, um lugar que serviu de morada e de escola para os sábios, para que eles pudessem praticar a pragmateía epicurista em sua máxima potência. O momento final deste trabalho consiste na tentativa de recriar o que seria o dia-a-dia da comunidade epicurista, a fim de pensar quais práticas e exercícios eram realizados pelos seus membros. Será analisada, mais especificamente, a pertinência filosófica das atividades jardíneas que (1) priorizavam a autossuficiência da comunidade, (2) a perpetuação do ensino entre os membros e (3) a realização de determinados “cultos” celebrativos.