Qualidade do sono durante a pandemia e suas interfaces com o consumo alimentar, comportamento sedentário e vitamina D.
Nenhuma Miniatura disponível
Data
2022
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Introdução: O sono é um comportamento natural e imprescindível, ocupa cerca de um terço
de nossas vidas e é fundamental para o nosso bem-estar físico, mental e emocional. A qualidade
do sono e os problemas relacionados afetam praticamente todas as áreas da saúde e a maioria
desses problemas pode ser tratada ou prevenida de forma eficaz, a partir do diagnóstico correto
e da identificação e prevenção dos fatores de risco relacionados. O estudo do sono é recente na
literatura e ainda é pouco claro o papel de certos determinantes, como o consumo alimentar, o
comportamento sedentário e a vitamina D.
Objetivos: Avaliar a qualidade do sono da população adulta da região dos Inconfidentes (MG)
durante a pandemia da covid-19 e sua associação com o consumo alimentar, comportamento
sedentário e vitamina D sérica.
Metodologia: Foi realizado um inquérito soroepidemiológico transversal de base populacional
com coleta de dados domiciliar em dois municípios da região dos Inconfidentes (Ouro Preto e
Mariana), entre outubro e dezembro de 2020. Por meio de uma entrevista face a face foram
avaliadas questões sociodemográficas, de comportamentos e condições de saúde. A qualidade
do sono foi medida pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP) e classificada como
sono de boa qualidade (0-5 pontos) ou de má qualidade (> 5 pontos). Também foi realizada a
coleta de sangue para a determinação de vitamina D sérica. Em todos objetivos propostos, a
variável desfecho foi a má qualidade do sono. No primeiro objetivo, avaliou-se a qualidade do
sono e sua associação com fatores sociodemográficos, condições de saúde e aspectos
relacionados a pandemia da covid-19. No segundo objetivo, que foi avaliar a associação do
consumo alimentar com a qualidade do sono, a variável exposição foi uma pontuação de
ingestão de alimentos que considerou a frequência de consumo e a extensão e propósito do
processamento de alimentos. A pontuação total variou de 0 (melhor) a 48 pontos (pior qualidade
da alimentação), categorizados em quartis. Além disso, foi avaliado se os indivíduos
substituíram seu almoço e/ou jantar por alimentos ultraprocessados por cinco, ou mais dias na
semana. O terceiro objetivo foi avaliar a associação do comportamento sedentário isolado e em
conjunto com a prática de atividade física na qualidade do sono. A variável exposição foi o
comportamento sedentário, medido a partir do autorrelato do tempo total sentado em horas por
dia, e o efeito da razão entre o tempo gasto em atividade física no lazer moderada a vigorosa
pelo tempo em comportamento sedentário. Indivíduos com nove horas ou mais de tempo total
sentado foram classificados com comportamento sedentário elevado. E o último objetivo foi
5
avaliar a associação entre a vitamina D com a qualidade do sono, estratificado pela exposição
a luz solar diária. A vitamina D (25(OH)D) foi determinada por eletroquimioluminescência
indireta, e classificada como deficiência, valores de 25(OH)D < 20 ng/mL numa população
saudável e 25(OH)D < 30 ng/mL para grupos em risco de deficiência de vitamina D (idade ≥
60 anos, indivíduos com obesidade, cor de pele parda ou preta, com câncer, diabetes ou doenças
renais crônicas). A exposição a luz solar diária foi classificada como "insuficiente" quando
menor que 30 minutos por dia. As associações foram estimadas a partir de análise logística
univariada e multivariada. Gráficos acíclicos direcionados (DAG) foram elaborados para
auxiliar na seleção de conjuntos mínimos e suficientes de variáveis de ajuste para
confundimento a serem incluídas nos modelos multivariados, a partir do critério da porta de
trás (backdoor).
Resultados: Foram avaliados 1.762 indivíduos, 998 do município de Ouro Preto (56,6%) e 764
de Mariana (43,4%). Em relação às características sociodemográficas dos participantes do
estudo, 51,9% eram do sexo feminino, 47,2% da faixa etária de 35 a 59 anos, 53,2% indivíduos
solteiros, 67,9% pretos ou pardos, 31,2% tinham até 8 anos de estudo e 41,1% possuíam renda
familiar de até 2 salários mínimos. O IQSP teve uma pontuação média de 6,32 pontos (IC95%
6,03-6,62) e a prevalência de má qualidade do sono (IQSP > 5) foi observada em 52,5% (IC95%
48,6-56,4) do total da amostra. Em relação ao primeiro objetivo, as variáveis associadas a má
qualidade do sono foram: ter uma perda de peso de 5,0% (OR:1,66; IC95%: 1,01-2,76) ou
ganho de peso de 5,0% (OR:1,90; IC95%: 1,08-3,34), ter sintomas da covid-19 (OR:1,94;
IC95%: 1,25-3,01), ter sintomas de ansiedade (OR:2,22; IC95%: 1,20-4,14) e viver sozinho
(OR:2,36; IC95%: 1,11-5,00). Quanto ao segundo objetivo, observou-se que indivíduos no
quartil 3 e 4, caracterizados por maior consumo de alimentos ultraprocessados e menor
consumo de alimentos in natura/minimamente processados, tiveram maiores chances de má
qualidade do sono (Q3=OR: 1,71; IC95%: 1,03-2,85; Q4=OR: 2,44; IC95%: 1,32-2,44)
comparados aos indivíduos do primeiro quartil, caracterizados por maior consumo alimentos in
natura/minimamente processados e menor consumo de alimentos ultraprocessados. Em relação
ao comportamento sedentário (terceiro objetivo), na análise multivariada os indivíduos com
comportamento sedentário de 9 horas ou mais por dia, tinham mais de chances de ter má
qualidade do sono (OR: 1,81; IC95%: 1,10-2,97). E nos indivíduos com comportamento
sedentário ≥ 9h, a prática de um minuto de atividade física moderada a vigorosa por hora de
comportamento sedentário reduziu a chance de ter má qualidade do sono (OR: 0,83; IC95%:
0,70-0,96). Por fim, em relação ao quarto objetivo, encontramos que a prevalência de
6
deficiência de vitamina D foi de 32,2% (IC95%: 26,9-38,0), e na análise multivariada, a
deficiência de vitamina D foi associada a má qualidade do sono apenas em indivíduos com
exposição a luz solar insuficiente (< 30 minutos/dia) (OR: 2,08; IC95%: 1,16-3,72). Além
disso, em indivíduos com exposição a luz solar insuficiente, cada aumento de 1 ng/mL nos
níveis de vitamina D reduziu em 4,2% a chance de ter má qualidade de sono (OR: 0,96; IC95%:
0,93-0,99).
Conclusão: Este estudo revelou que mais da metade dos indivíduos tinham má qualidade do
sono durante a pandemia da covid-19, e que a perda ou ganho de peso, sintomas da covid-19,
viver sozinho, ou ter sintomas de ansiedade foram associados a má qualidade do sono. Além
disso, o maior consumo de alimentos ultraprocessados concomitantemente com menor
consumo de alimentos in natura/minimamente processados, o comportamento sedentário
elevado e a deficiência de vitamina D em indivíduos que tinham exposição a luz solar
insuficiente foram associados a má qualidade do sono. Dessa forma, este estudo fornece
subsídios para a elucidação de alguns determinantes do sono, permitindo a formulação de
políticas, programas e ações, apoiando a gestão em saúde e contribuindo para a promoção da
qualidade do sono.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição. Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Distúrbios do sono, Calcitriol, Comportamento sedentário, Exercício físico, COVID-19
Citação
MENEZES JÚNIOR, Luiz Antônio Alves de. Qualidade do sono durante a pandemia e suas interfaces com o consumo alimentar, comportamento sedentário e vitamina D. 2022. 207 f. Tese (Doutorado em Saúde e Nutrição) - Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2022.