Tratamento da leishmaniose visceral canina empregando duas abordagens terapêuticas distintas: quimioterapia com antimoniato de meglumina lipossomal e imunoterapia com anticorpo monoclonal bloqueador do receptor de IL-10.

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2018
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Resumo
A leishmaniose visceral (LV) é um grave problema de saúde pública, em crescente expansão em várias regiões do mundo. O cão doméstico é o principal reservatório urbano do parasito quando a doença apresenta perfil epidemiológico antropozoonótico e por esta razão, a eutanásia de cães soropositivos é empregada como medida de controle da doença. Assim, o tratamento da leishmaniose visceral canina (LVC) tem sido proposto como alternativa ao sacrifício de cães soropositivos. Entretanto, a terapêutica convencional para a LVC tem sido discutida sob vários aspectos, entre eles a real competência de cura dos animais. Dessa forma, nosso estudo buscou avaliar diferentes estratégias de tratamento para a doença empregando a quimioterapia com antimoniato de meglumina lipossomal e a imunoterapia com anticorpo monoclonal bloqueador do receptor de IL-10. Nossa estratégia experimental contou com 20 cães naturalmente infectados por L. infantum, divididos em dois grupos experimentais: um grupo de cães que recebeu a quimioterapia composta por seis doses antimoniato de meglumina em lipossomas convencionais e peguilados (6,5mg de Sb5+/kg por dose) por via endovenosa lenta a cada 96h (AMLip - n=9) e o segundo grupo que recebeu a imunoterapia com anticorpo monoclonal bloqueador do receptor de IL-10 em duas doses compostas por 2 mg de cada anticorpo (contra subunidade alfa e beta) totalizando 4 mg de anticorpo por dose, por via intramuscular (Bloq IL-10R – n=11). Os cães foram avaliados antes do tratamento (T0) e após 30 (T30), 90 (T90) e 180 (T180) dias das diferentes estratégias terapêuticas sob os aspectos hemato-bioquímicos, imunológicos, clínicos e parasitológicos. Anterior ao tratamento, as formulações lipossomais compostas por mistura de lipossomas convencionais - DSPC, CHOL e DCP e lipossomas peguilados - DSPC, COL, DCP e DSPE-PEG foram avaliadas e demonstram caraterísticas físico-químicas satisfatórias do ponto de vista farmacotécnico. Da mesma forma, foi realizado uma avaliação in vitro, da capacidade funcional do anticorpo monoclonal bloqueador do repector de IL-10, demonstrando um aumento da proliferação linfocitária antígeno específica tanto para células T CD4+ quanto para células T CD8+, uma diminuição de IL-4 produzido por células CD4+ além de um aumento na produção de TNF- por células mononucleares do sangue periférico (CMSP). Nossos principais resultados revelaram que a quimioterapia com AMLip não foi efetiva em restaurar alguns parâmetros hematológicos, ao contrário dos cães tratados com Bloq Il-10R que foram capazes de restabelecer o número de linfócitos. O quadro bioquímico, à exceção aos níveis de fosfatase alcalina, não foi reestabelecido nos dois grupos, apesar de manutenção dos parâmetros. A análise do perfil imunofenotípico sanguíneo demonstrou que cães tratados com AMLip apresentaram aumento de linfócitos T CD3+ circulantes e das subpopulações de linfócitos TCD4+ e CD8+ além de linfócitos B CD21+, células NK CD5-CD16+ e monócitos CD14+ nos tempos iniciais pós tratamento (T30 e T90). Já os cães tratados com Bloq IL-10R apresentaram aumento apenas de linfócitos TCD3+CD4+ em T30 e T90. Em relação às avaliações in vitro, ambos os tratamentos não foram capazes de induzir uma capacidade linfoproliferativa antígeno específica ao fim do acompanhamento experimental (T180), apesar do aumento da proliferação de linfócitos T CD4 em T90 após a quimioterapia com AMLip e aumento da linfoproliferação de CD4 e CD8 após imunoterapia com Bloq IL-10R em T30 e T90. De forma interessante, foi observado um aumento de linfócitos TCD4+ produtores tanto de IFN- quanto de IL-4 após estimulação com ASLi em ambos os grupos apenas em T90 e uma redução na produção de IL-10 por CMSP em T30 no grupo Bloq IL-10R. Nossos resultados demonstraram que as estratégias de tratamento empregadas não foram capazes de induzir um perfil de resistência a infecção por Leishmania ao fim do acompanhamento experimental (T180). Em relação a avaliação clínica, os animais submetidos tanto a quimioterapia com AMLip quanto à imunoterapia com Bloq IL-10R não foram capazes de alcançar uma melhora de sinais/sintomas clínicos sugestivos de LVC além de não alcançarem um aumento da massa corporal e redução de esplenomegalia ao fim dos respectivos tratamentos (T180), apesar de uma melhora nesses aspectos em T30 e T90. Somando-se a esses fatores, a quimioterapia com AMLip não foi eficaz em reduzir a carga parasitária no baço e pele após ao fim deste regime tratamento. Por outro lado, a imunoterapia com Bloq IL-10R foi eficaz em reduzir a carga parasitária no baço, apesar da resposta imune antígeno específica e a avaliação clínica não seguir o mesmo padrão. Nossos resultados sugerem que uma nova intervenção terapêutica ou manutenção das distintas terapias propostas por um tempo mais prolongado pode ser necessário para a ampliar a eficácia da ação terapêutica. Além disso, nossos resultados enfatizam a necessidade da associação entre a quimioterapia e imunoterapia (imunoquimioterapia) como uma possível poderosa ferramenta na terapêutica da LVC.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Pró-Reitoria de Pesquisa de Pós Graduação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Leishmaniose visceral canina, Leishmaniose infantum, Cão
Citação
CARDOSO, Jamille Mirelle de Oliveira. Tratamento da leishmaniose visceral canina empregando duas abordagens terapêuticas distintas: quimioterapia com antimoniato de meglumina lipossomal e imunoterapia com anticorpo monoclonal bloqueador do receptor de IL-10. 2018. 146 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2018.