Ler, ver, ouvir e tocar : estratégias narrativas e affordances digitais nos aplicativos das revistas Vis-à-Vis e Mine.

Abstract

Este trabalho tem como foco a emergência das revistas digitais, mais especificamente as e-magazines, produtos jornalísticos que circulam via aplicativos em smartphones e tablets. Partimos do pressuposto de que as revistas em circulação nos dispositivos móveis reconfiguram a mídia, mas também repetem arquétipos e características da mídia impressa. Dessa forma, optamos por observar este momento da comunicação, sobretudo, via os conceitos de remediação (BOLTER e GRUSIN, 2000) e midiamorfose (FIDLER, 1998), segundo os quais as mídias coexistem e coevoluem – isto é, um meio de comunicação não surge espontaneamente, mas sim evolui dos antigos. Outra perspectiva fundamental é a teoria das affordances (GIBSON, 2015; NORMAN, 2013), aplicada aos estudos de mídia digital, a partir da constatação de que os dispositivos móveis e o ambiente digital emergem com uma série de possibilidades tecnológicas que influenciam nas estratégias narrativas adotadas pelos veículos de comunicação (PALACIOS, et al., 2015; SHROCK, 2015). Nosso objeto de pesquisa é composto pelos aplicativos das revistas Vis-à-Vis e Mine, ambas produzidas pela editora espanhola Ploi Media. Os procedimentos metodológicos combinam análise de conteúdo exploratória dos aplicativos e das revistas a uma ficha de operadores de análise composta por affordances específicas dos dispositivos mobile e do ambiente digital. Esses itens, apontados como elementos de inovação, foram verificados e testados um a um em sete edições das revistas selecionadas. O objetivo geral é investigar e compreender as estratégias de narração dos aplicativos de revistas, com ênfase naquilo que trazem de inovação e na manutenção de elementos da mídia impressa. Identificamos que a tactilidade, a portabilidade, a multimidialidade e a hipertextualização são as affordances específicas mais utilizadas pelos objetos, trazendo aprofundamentos inéditos à revista, mas também remediando as ações em papel. Em contrapartida, a nivelabilidade, a replicabilidade e a interatividade se apresentam com baixa frequência, enquanto a opticabilidade e a localibilidade não se concretizam.