A descolonização da historiografia da educação e a coleção História Geral da África (UNESCO).

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Data
2021
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Resumo
Esse trabalho busca compreender os elementos teórico-metodológicos que nortearam a construção da Coleção “História Geral da África” (HGA), financiada pela UNESCO, composta por oito tomos. Nesse sentido, analisamos os capítulos que tratam sobre estes temas, localizados no primeiro volume da obra, por meio dos artigos escritos por Joseph KiZerbo (2010), Bethwell Allan Ogot (2010), Boubou Hama (2010), Jan Vansina (2010), Amadou Hampaté Bâ (2010) e M. Amadou Mahtar M’Bow (2010), que discorrem sobre as perspectivas historiográficas que orientaram a concepção do projeto. A partir disso, à luz das abordagens decolonialistas de Boaventura de Sousa Santos (2009) e Yves Mudimbe (2013), e das discussões realizadas por Muryatan Santana Barbosa (2012) e Felipe Soares (2014), investigamos as categorias analíticas lançadas mão pelos especialistas integrantes da HGA a fim de apreenderem os processos históricos ocorridos no continente africano, a saber: perspectiva africana, regionalismo, difusionismo intra-africano, sujeito africano, e resistência. Visamos entender, também, a referida Coleção como parte do movimento de renovação historiográfica em curso na África, cujo objetivo é o de desconstruir discursos históricos eurocêntricos e racistas, sistematizados sobretudo nos séculos XVIII e XIX, no momento em que acontecia grande parte dos processos de independência, a partir de meados do século XX. Ao mesmo tempo, nosso objetivo é compreender os possíveis alcances desse conhecimento na Historiografia da Educação, tendo em vista os debates sobre descolonização dos currículos realizados especialmente por Nilma Lino Gomes (2012) e Luena Nunes Pereira (2008), que defendem um ensino multicultural e antirracista orientados pela Lei 10.639/03. Isso porque, traduzida para o português em 2010, a “História Geral da África” impulsionou o lançamento de outras publicações, as “Sínteses História Geral da África” (2013) e a “História e Cultura Africana e Afro-Brasileira na Educação Infantil” (2014), por meio do “Programa Brasil-África: Histórias Cruzadas” realizado pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de São Carlos (NEAB/UFSCAR), que desejava uma apropriação dessa historiografia por manuais escolares, professores e pesquisadores. Ademais, empreendemos o estudo das abordagens realizadas pelos especialistas pesquisadores e autores da Coleção sobre a descolonização da educação africana, tendo como foco investigativo o oitavo volume, publicado originalmente em 1993, que trata sobre o continente sob o recorte temporal que se inicia em 1935. Constatamos que a historiografia africana, em especial a HGA e as publicações dela derivadas, podem constituir-se como obras de referência na escrita de manuais escolares de História e nas pesquisas em História da Educação, seja ao debaterem sobre as sociedades africanas, seja ao discutirem sobre a população afro-brasileira, ensejando também práticas docentes e científicas antirracistas, de modo a fomentar a desconstrução de estigmas raciais historicamente forjados e reduzir as desigualdades raciais existentes no sistema educacional. Concluímos também que, segundo os autores da HGA, a descolonização do ensino é um elemento fundamental para que as nações africanas, e também a brasileira, consigam romper de fato com as heranças do colonialismo que ainda persistem nos continentes.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Educação. Departamento de Educação, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
História geral da África, Descolonização, Educação - história
Citação
PINTO, Marcelo Felício Martins. A descolonização da historiografia da educação e a coleção História Geral da África (UNESCO). 2021. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2021.